No passado dia 13 de outubro, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou, por aclamação, o nome de António Guterres para o cargo de Secretário-Geral das Nações Unidas.
Desta forma, e a partir do dia 1 de Janeiro de 2017 – e por cinco anos - o ex-primeiro-ministro português ocupará o lugar cimeiro da mais relevante organização mundial.
Esta foi, sem qualquer dúvida, uma vitória pessoal do candidato, mas também um enorme motivo de orgulho para Portugal e para a nossa diplomacia.
António Guterres disputou aquele lugar contra outros 12 candidatos, entre os quais figuravam vários dirigentes das Nações Unidas, atuais Ministros dos Negócios Estrangeiros, uma Comissária Europeia, um ex-Presidente e uma Primeiro-Ministro em funções.
O representante português partiu para esta corrida com um handicap. Por força da rotatividade tácita que impera nestes organismos multilaterais, subentendia-se que o futuro SG das Nações Unidas devia ser uma mulher e do Leste da Europa.
Guterres e a sua equipa procuraram desde logo desmistificar esta questão e colocar o foco nas qualidades pessoais e profissionais do candidato, especialmente em matérias de promoção da igualdade entre géneros. Ao longo dos vários meses que durou este processo, o antigo Primeiro-Ministro de Portugal trabalhou com uma equipa direta de cerca de 10 pessoas, entre os quais figuravam vários diplomatas, em Lisboa e nas Nações Unidas em Nova Iorque. Este grupo permitiu uma estreita cooperação institucional entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros, a Presidência da República e o Gabinete do atual Primeiro-Ministro. A completar esta estratégia, muitos embaixadores tiveram um papel fundamental, apresentando os argumentos da candidatura nas respetivas capitais.
Mas afinal o que distinguiu António Guterres dos demais candidatos e que o fez ultrapassar todos os obstáculos? Creio que, em primeiro lugar, esteve a preparação do candidato e a sua capacidade intelectual. Seguramente a empatia com que assumiu entre 2005 e 2015 o cargo de Alto-comissário das Nações Unidas para os refugiados também contribuiu para lhe dar autoridade moral num dos temas de maior preocupação para o mundo de hoje. Estou igualmente certo de que a sua aptidão para a comunicação e a habilidade com que discursou em inglês, francês e castelhano também contribuiu para convencer os mais renitentes. Mas, quanto a mim, o que mais pesou junto dos diversos intervenientes foi a atitude positiva com que a campanha foi levada a cabo. António Guterres nunca criticou nenhum outro candidato, não se insurgiu contra manobras de última hora, não se mostrou preocupado com o percurso dos demais. Limitou-se a explicar porque é que, no seu entender, era a pessoa indicada para o lugar.
Como não podia deixar de ser, o candidato português colocou especial ênfase nos 15 membros do Conselho de Segurança, com especial atenção para os cinco membros permanentes (China, Rússia, Estados Unidos, França e Reino Unido) uma vez que estes últimos tinham direito de veto sobre as candidaturas.
Ao longo de nove meses, António Guterres percorreu mais de 100 mil quilómetros em múltiplas viagens de sedução a várias capitais. Em muitas destas situações, o candidato viajou sozinho, numa atitude de contençãotivo financeira devido à condição do país. Certamente que até nisso o carácter de Guterres ficou valorizado.
Ao fim de sucessivas votações no Conselho de Segurança, que Guterres liderou sempre, aquele organismo entendeu propor o nome do português para o dito cargo. E a Assembleia-Geral aceitou-o, por aclamação. A partir de 1 de Janeiro as Nações Unidas serão mais portuguesas. E Portugal, direta ou indiretamente, será ainda mais relevante no plano internacional.
Boa sorte, António Guterres !!!

